Moda e Fetiche III

Quando se fala em moda, a primeira coisa que se associa é a indumentária. É um pensamento habitual, mas as roupas são, nada mais, que formas de cobrir o corpo; uma textura.

E tratando-se de corpo humano, assim como encontraram formas de marcá-lo de forma a se identificar ou destacar, encontraram formas para idealizá-lo. E a cultura dos povos tem direta influência sobre essa estética, pois aí se criam os padrões estéticos. E mesmo estes padrões alterando-se com frequência, as relações do indivíduo com sua estética e a roupagem de sua pele.

 

Desde pequenos temos de lidar com todas as imposições sociais do aceitável e do inadequado, o que nos gera muitos limites internos. E as questões de estética estão diretamente ligadas a isso.

E se os padrões de belo e horrendo são relativos e completamente mutáveis, certos posicionamentos ou vertentes têm consequências diretas nos padrões que criamos para nós mesmos, bem como o que nos é agradável aos olhos, ou mesmo quanto ao meio, a forma de vincular-se a pessoas que se assemelham a um ideal muito pessoal que se cria. Ou seja, o corpo também é uma manifestação estética-cultural, além de alvo dos fetiches mais pessoais de todos.

É possível se ver o fetiche em todos os lugares. Na mídia, no trabalho, na escola… quem nunca ouviu uma mulher reclamando de seu peso?

Há anos as mulheres definem um padrão estético como o ideal. E mesmo isso sendo um tanto efêmero, os padrões causam as mais diversas controvérsias entre as pessoas. E hoje, em tempos de Gisele, temos um alto índice de meninas que se destróem por sua estética, em dietas descontroladas ou disturbios alimentares; por outro lado, vivemos em um tempo de correria, onde os fast foods se expandem mundo a fora, aumentando o peso da população. E não podemos ignorar os avanços da medicina estética, onde próteses de silicone e butox são partes constantes do nosso cotidiano, e que geram alterações significativas na estética, tanto feminina quanto masculina.

E sempre o corpo é o alvo de suas ambições.

Raquel é uma menina que não tem o padrão estético como vemos na televisão, e ela é muito bem resolvida. Gostaria de perder alguns quilinhos, como grande parte das mulheres, mas não tem um alvo estético ideal. Ela considera o corpo que vemos na televisão muito magro, e estéticamente isso não a agrada.

A Senhorita V (que não gostaria de ser identificada) não sabe lidar bem com seu corpo. Ela diz que o efeito sanfona a faz se sentir mal com ela mesma, e a ausência de roupas que sejam satisfatórias, em tamanho e estética, ainda afeta sua auto estima. Mesmo com essa insatisfação, ela lida muito bem com sua nudez. Seu ideal, ironicamente, baseia-se em números. Quer chegar ao peso que ela definiu como correto, e esta é sua satisfação. Ela atribui valor físico às suas ânsias: já sentiu sensibilidade em seus joelhos e tornozelos, que podem ter se originado com seu sobrepeso.

Lady N por anos foi complexada com seu corpo. Ela, jovem de 18 anos, tem a pressão familiar da acusação por suas curvas acentuadas. Hoje, desvenciliada das pressões que essa fase de transição acarreta, ela pode se sentir uma mulher mais aceita. Descobriu que pode, sim, ser linda aos seus olhos e olhos alheios, sem maltratar-se ou punir-se. Mas ela garante que se alimenta com busca específica por qualidade. Como já teve problemas de saúde, não quer correr o risco de flagelar-se ou sensibilizar-se por seu peso ou por má alimentação.

“É uma tendência do Século XIX”, disse Cristian Verardi.

E é mesmo. As estéticas mais corpulentas estão mais atrativas aos olhos masculinos.

O Senhor T. notou sua atração por mulheres de seios fartos e quadris largos. Muito tempo depois ele foi notar que essa visão era resultado de suas ambições pessoais, de ter filhos. Antigamente esse padrão estético era símbolo de reprodução, como vimos anteriormente, além dos quilinhos a mais espressarem fartura financeira.

O Lorde B. é bissexual, e não gosta de meninas magrinhas. Zela pela limpeza e boa higienização, que nota que não é coisa que todas as moças tenham hoje em dia.

Hoje temos as mais diversas formas de tratar o próprio corpo, e temos modificações significativas das alterações deste. Podemos notar que nos anos 40 tínhamos as pin ups, que hoje são lidas e relidas incessantemente, mas que dificilmente se assemelharão ao que eram, pela forma que o corpo atual tomou. O Tight Lacing, mesmo, é uma tentativa, entre tantas coisas, de recriar a estética acinturada que o corpo perdeu com o passar dos anos. Mas as mais diversas alterações que o corpo sofre (ou é submetido) é resultado da cultura que impera.

Assim como tribos que marcam-se com tatuagens ou metais quentes, ou mesmo as Mulheres Girafas, são identificação de sua etnia e de sua identidade cultural, as pessoas desenvolvem similaridades, e as expõe  das mais diversas formas.

Lorde B. também é um rapaz tatuado. Mesmo não tendo seu corpo tomado por tatuagens, ele narra como surgiu a tatuagem em sua vida.

” Começou com um desenho legal, guardado por anos até ter dinheiro no bolso. Depois tatuei o sobrenome [da família] por amor… nunca senti dor, ou nada além do normal. Mas era uma dor boa.”

O Sr. X, já mencionado anteriormente, tem maior preenchimento de seu corpo por tatuagens. Talvez tenha sido sua visão, que complementa a ótica de Lorde B., que o leva a novas tatuagens, ou mesmo a ser um tatuador:

“Tatuagem dói. Mas te completa.”

O Homem I preenche seu corpo para marcar sua história, suas mudanças. “Fincar raízes”, como ele mesmo diz. Apesar de notar que começou a texturizar-se como símbolo de rebeldia, hoje ele alterou esse conceito, e já planeja sua próxima tatuagem, depois de dois anos sem marcar-se.

E não se pode abster os extremos que essa exposição pode chegar. Há muito fala-se de body modification, mas e a ambição de mudar-se por completo? Não apenas as cirurgias plásticas, mas os extremos. Animalizar-se?

 

A visualização de seu corpo está na forma que você o vê. O ser humano é insatisfeito por natureza, e tende a potencializar sua auto crítica. Assim como tem pessoas que vêem problema em ficar mais velhas, tem pessoas que buscam esta estética, esse elo. Da mesma forma que muitos se submetem aos tratamentos mais invasivos para retirada de sardas ou cicatrizes, que para tantos é um  fundamental para seu deslumbre.

Até mesmo o primeiro fetiche catalogado de fato trata-se de corpo. Um senhor burguês que, na Inglaterra, pela metade do século XIX, pagava uma prostituta para não lavar seus pés, pois seu prazer aumentava conforme a sujeira nas unhas de seus dedões.

Vale considerar que os pés descalços nas camadas mais baixas da sociedade eram comuns. O relato não enfatiza a classe da cortesã.

Assim, a forma de lidar com s padrões impostos, bem como lidar com o que se ambiciona, para si ou seus consortes e amigos, é uma relação de conceitos e preconceitos, mas que inicia-se em sua visão de seu maior fetiche e tabu: o seu corpo.

 

E quando assisti na Casa de Cultura o show de Yanto Laitano, notei que este refrão cabia perfeitamente nesta questão de aceitação de seu visual, e modificação do mesmo. Sim, é necessário o conhecimento de seu corpo para ser capaz de se reinventar como estilo. Ainda chamo a atenção para o rapaz, que está num visual que lembra muito Herodes, em Jesus Cristo Superstar.

httpv://www.youtube.com/watch?v=J0iDY2vAzm4

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