Por Ricardo Medauar Ommati
Ricardo Medauar Ommati[1]
Depois de 24 horas de vôo (14 horas até Dubai, mais 10h até o Japão), atravessando toda a Terra em extensão longitudinal, cerca de 12 meridianos e diferentes Oceanos, aterrissamos em Tóquio…
Há quem considere o Japão a civilização mais avançada do mundo – incluindo-se, principalmente, a educação do povo, cuja cordialidade, limpeza e organização fazem daquele país um reduto diferencial. Com tantos atributos humanos, até a comunicação fica mais fácil, apesar das formas de escrita aparentemente ininteligíveis (ideograma, hiragana e katakana). Muitos japoneses falam inglês fluente e nunca se escusam a prestar ajuda, muitas vezes desviando-se do seu próprio eixo para guiarem os turistas curiosos.
Conquanto não possua espaço físico suficiente para abrigar contingente populacional tão alto (a densidade demográfica é a maior do mundo, com 14 mil habitantes por quilômetro quadrado, quase 2 vezes maior que a de São Paulo) – ainda assim sentimos acolhimento na civilização japonesa, talvez em decorrência da nobreza do povo, cuja elevação cultural afasta o medo do próximo. Aliás, no Japão, o próximo não se torna perigoso porque todos têm acesso aos bens materiais e, diante de índices de violência tão baixos, não há necessidade de desejar para si aquilo que é do outro.
Tóquio oferece tudo, a qualquer hora do dia ou da noite. Cosmopolita, mais frenética do que New York, com metrôs e galerias subterrâneas, o maior centro econômico do Oriente ostenta, nas ruas de Ginza (o bairro mais chique de Tóquio) frenesi em lojas como Lladró, Cartier, Goyard, Rolex (sempre lotadas). A grande diferença é que lojas e restaurantes (incluindo boates) se colocam na vertical. Pela falta de espaço, existem prédios inteiros compostos de restaurantes, cada qual num andar. Uma das lojas Louis Vuitton de Ginza (existem 5 lojas Louis Vuitton apenas nesse bairro) ergue-se num edifício de 8 andares. Cartier, em 12 andares. Prada, em 8. E assim, Tóquio vai crescendo “pra cima” – onde todo cuidado é pouco pois, na busca para localizarmos alguns dos muitos nomes expostos na vertical, corremos o risco de tropeçar na grande multidão.
A natureza talvez não tenha dotado o Japão de praias paradisíacas, mas lhe presenteou com o Monte Fuji, uma montanha com 3843 m de altitude (cujo topo é sempre congelado), além do Lago Aishi e as termas de Owakudani. Um day-tour nessas atrações é imperdível.
Ainda, perto de Tóquio, a 2h20min no trem bala mais moderno do mundo, podemos conhecer Kyoto, antiga capital nipônica, que abriga templos budistas, culinária e o modo de vida genuinamente japonês, com suas gueixas, roupas e artefatos típicos da cultura local. Diferentemente da correria de Tóquio, em Kyoto existe uma aura de romance, paz, plenitude, espiritualidade.
Complementando o roteiro, com mais 1h de trem, partindo de Kyoto, conhecemos Hiroshima, onde podemos conferir, in loco, a devastação oriunda da bomba atômica de 1945, quando os Estados Unidos destruíram cerca de 200 mil pessoas, de uma só vez, naquela região. Porquanto a memória tenha ficado viva nos rostos deformados de alguns sobreviventes (que ainda circulam nas ruas de Hiroshima) ou na construção de museus abertos gratuitamente a todos (inclusive aos próprios norte-americanos), o Japão cuidou de se reconstruir, voltando a ocupar posição invejável no ranking de desenvolvimento social-tecnológico da pós-modernidade.
A comida japonesa pode assustar pela variedade de peixes (comidos crus), alguns diferentes dos brasileiros (como a popular enguia elétrica); ou caramujos (caracóis, semelhantes ao scargot francês). Em alguns restaurantes, os peixes são mortos no momento de serem servidos, para assegurar os exigentes paladares de que são realmente frescos. E podemos apreciar lula, polvo e ovas as mais variadas, ao deguste de sakê, cuja coloração, do azul claro ao amarelo, revela a idade de maturação da bebida (tanto mais nobre quanto mais amarelada/envelhecida).
Diferente? – No Japão, “diferente” é não ser civilizado. Tudo o mais é compreendido pela seara do respeito. Por detrás do aparente siso ou da rigorosa disciplina, o povo japonês segue com graça, caminhando sempre com pressa e desviando-se da multidão inevitável que os faz cada vez mais unidos na civilização mais primorosa da Terra. Arigatô !
[1] ricardoommati@gmail.com – Analista Judiciário do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo; Graduando em Jornalismo pela Universidade Anhembi Morumbi de São Paulo; pianista. @richmedauarommati