
Por: Equipe Taste
Armagnac é a bebida destilada mais antiga da França. Produzida na bela região da Gasconha, terra de d’Artagnan, esse brandy finíssimo é obtido pela destilação contínua de um vinho base em alambiques Armagnaçais
Surgida na metade do século XV, o Armagnac permaneceu como uma especialidade local até o século XVI quando então ganhou certa notoriedade. Mesmo contando com uma enorme quantidade de vinhos brancos adequados para destilar, os produtores não tinham agressividade comercial necessária para dar maior vazão ao produto em mercados internacionais. Até o fim do século XVII, a indústria do Armagnac permanecia sem perspectivas de expansão entre outros motivos pelas deficiências de transporte. Finalmente, na primeira metade do século XIX houve o resgate dessa reclusão, graças a dois acontecimentos simultâneos: a invenção do alambique contínuo, com o qual conseguiram melhorar a qualidade do produto; e a canalização do rio Baise, cuja navegação permitiu baratear os brandies no mercado. A fase de progresso durou até 1878, quando seus vinhedos foram devastados pela phylloxera.
Na primeira década do século passado foram iniciados estudos para delimitar as áreas de produção dentro da denominação Armagnac. A aprovação ocorreu em 1936 com a definição de três zonas AC Armagnac: Bas-Armagnac, Ténazère e Haut-Armagnac. Após períodos de instabilidade causados pela II Guerra, a produção voltou a crescer a partir de 1960. Embora exportando muito menos que o Cognac, vende mais que seu rival no mercado interno. Ao contrário dos cognacs, os armagnacs podem datar seus produtos. No entanto somente poucas casas possuem suficiente estoque de safras individuais para indicá-las nos rótulos. Historicamente a fama do Armagnac foi baseada nos aromas florais dos brandies destilados da uva Folle Blanch, a mesma utilizada em Cognac. Após a phylloxera, passaram a utilizar a uva Colombard. Ela produzia excelentes brandies frutados, mas a maior parte se destinava a vinhos de mesa. Introduziram também uma híbrida chamada Baco, mas somente a partir de 1945 foi adotada a Ugni Blanc, que constitui hoje a maior parte da área plantada.
Eau-de-vie
Um pouco menos conhecido que seu “irmão”, o Armagnac é uma eau-de-vie feita com as mesmas uvas do Cognac, passa pelo mesmo tempo de envelhecimento em barris de carvalho, mas, é na destilação que ocorre a diferença crucial entre os dois. O Armagnac é purificado apenas uma vez, o que faz da Armagnac um pouco mais aromático, aveludado e redondo, contrastando com a austeridade e potência do Cognac.
Em Armagnac é essencialmente o terroir que imprime sua marca sobre a tipicidade de cada eau-de-vie produzida. A recente presença de empresas de Cognac participando com interesses na área, introduziu o processo de dupla destilação, clássico em Charente. Com isso, a escolha entre três variedades de uvas e dois métodos de destilação permitiu a obtenção de diferentes estilos de Armagnac. Após a destilação, o Armagnac com 53% de álcool é colocado diretamente em barricas de carvalho da região, chamadas pièces. Durante a maturação, a bebida se impregna de aromas e da cor âmbar que a caracteriza. Como em Cognac, a evaporação de 3% ao ano também é chamada de “a parte dos anjos” e o teor alcoólico é obtido com mistura de água destilada ou permanência prolongada nas barricas. O “maître de chai” pode então começar as misturas – a partir de diversas eau-de-vie de idades e origens diferentes – que permitem obter um produto que faz a reputação da marca. A idade do blend é a da aguardente mais nova e imutável, ou seja, pode-se juntar uma eau-de-vie de 30 anos com uma de 4, que a idade será sempre de quatro anos. Quando o teor alcoólico legal para a venda é atingido – mínimo 40%, o brandy é engarrafado. Como todos os destilados, ele não envelhece, porém se estabiliza numa bebida maravilhosa para tomar. Cheers!