A Pele que Habito

Por: Suzana Vidigal
Sempre que assisto a um filme de Pedro Almodóvar, faço o esforço de espantar a expectativas, de me livrar dos conceitos, ideias fechadas e pré-concebidas. É um esforço que vale a pena. A possibilidade de você entrar na viagem e na trajetória da narrativa do diretor espanhol é bem maior e certamente você vai passear um universo nunca dantes visitado! 

Da última vez, Almodóvar fez uma homenagem ao cinema com Abraços Partidos – com fortes semelhanças com os excelentes anteriores Tudo Sobre Minha Mãe, Fale com Ela e Volver. Todos femininos na essência. Desta vez, o lado masculino é preponderante, na figura de Antonio Banderas como Robert Ledgard. Renomado e genial cirurgião plástico, ele mantém um centro cirúrgico dentro de sua casa em Toledo, na Espanha e faz pesquisas para desenvolver uma pele que possa ser transplantada em pacientes queimados ou gravemente acidentados. A pesquisa transcende o meio científico e acadêmico e entra na seara pessoal, na obsessão, no cura de um passado cheio de traumas e perdas. Como tudo em Almodóvar, os elementos e personagens se cruzam de uma maneira forte, instigante e desta vez, mórbida, visceral, vingativa. 

Vejo muita gente dizendo que o diretor espanhol não se renova, que o formato é sempre o mesmo. Não concordo, acho que ele imprime seu estilo, mas sabe contar histórias como ninguém. Mas tenho que confessar que A Pele Que Habito tem algo novo, menos humorado e mais maquiavélico talvez, mas não menos espetacular. Além de Antonio Banderas, Marisa Paredes (também em Tudo Sobre Minha Mãe) e Elena Anaya (também em Fale com Ela) estão incríveis – mas é o olhar e a loucura de Robert que dominam o filme e conduzem o destino de Marília, Vera e Vicente (Jan Cornet). Bem à sua maneira. Eu é que não queria estar na pele deles. 

DIREÇÃO: Pedro Almodóvar 
ROTEIRO: Pedro Almodóvar, Thierry Jonquet 
ELENCO: Antonio Banderas, Elena Anaya, Jan Cornet, Marisa Paredes, Blanca Soárez, Bárbara Lennie, Fernando Cayo 
Espanha, 2011 (117 min)

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