O consumo desenfreado dos chineses, russos e árabes está mudando o mercado de luxo e até a geografia de Champagne
Por CARLOS SAMBRANA
BORBULHAS LUCRATIVAS: a tradicional Taittinger pede o aumento da região produtora de Champagne
O preço da garrafa de champanhe tem subido a uma média de 10% ao ano e a produção atingiu seu limite. O quilo do caviar beluga não sai por menos de US$ 19 mil e o consumo desenfreado pôs o esturjão, peixe que produz as tão cobiçadas ovas, em extinção. O mercado de arte, por sua vez, está vivendo um de seus melhores momentos, com lances milionários e recorde sobre recorde. O curioso é que tudo isso está acontecendo no momento em que a recessão bate à porta dos Estados Unidos, país que sempre foi o fiel da balança quando o assunto é consumo. Quem, afinal de contas, estaria inflacionando o mercado de luxo? Os chineses, russos e árabes. Com o crescimento econômico da China, a multiplicação de novos milionários na Rússia e o aumento do preço do barril de petróleo, que fez jorrar ainda mais dinheiro nos países árabes, os produtos de luxo estão cada vez mais disputados. “Aumentamos o preço da champanhe e do conhaque para frear o consumo na China e não conseguimos. Eles compraram quatro vezes mais do que prevíamos”, diz Davide Marcovitch, presidente da Moët Hennessy para a América Latina, Caribe, África do Sul, Oriente Médio e Canadá.
Se, em 2005, a garrafa de uma Dom Pérignon custava US$ 99, em um duty free, hoje ela não sai por menos de US$ 150. Sem conseguir produzir mais, as empresas estão racionando as vendas. E isso tem levado a discussões mais profundas, alcançando a geografia da região de Champagne, na França. Apenas quem produz em um pedaço de terra de 32 mil hectares (320 milhões de metros quadrados), designado em 1927, pode vender a bebida com o nome champanhe. Diante da demanda, o governo francês estuda aumentar a demarcação das terras em até 4,8 mil hectares (48 milhões de metros quadrados). “Isso só faria efeito em um prazo de 15 anos”, diz Marcovitch. Mas é o suficiente para multiplicar por 200 o preço dos terrenos e turbinar a capacidade de produção estacionada em 320 milhões de garrafas por ano. “Estamos muito calmos, impassíveis”, disse Pierre- Emmanuel Taittinger, diretor da tradicional marca Taittinger, ao jornal The New York Times. O executivo, que pede a mudança na lei há mais de 20 anos, vai direto ao ponto. “É uma medida lógica.” Cabe ao governo de Sarkozy resolver este problema.
OVOS E OVAS: as peças de Fabergé atingem milhões de dólares e o preço do caviar beluga dobrou de um mês para o outro.
Enquanto os franceses tentam aumentar a produção de champanhe, os russos correm para salvar o esturjão, peixe que entrou na lista de animais em extinção. A maior parte da produção mundial do caviar vem do mar Cáspio, dividido entre a Rússia, o Irã, o Cazaquistão, o Azerbaijão e o Turcomenistão. Com o colapso da ex-União Soviética, os russos perderam o controle e a pesca predatória se tornou dez vezes maior do que a legalizada. O governo de Vladimir Putin tenta lutar contra os contrabandistas. Mas é uma batalha inglória: atualmente, a oferta de esturjão é 90% menor do que era há 20 anos. O inverso aconteceu com o consumo. Os milionários de Moscou buscam caviar como se fosse água e o preço saltou na Europa. Em novembro de 2007, 50 gramas de caviar custavam US$ 670. Hoje, saem por US$ 976.
Os russos, ao lado dos chineses e árabes, também se especializaram em comprar obras de arte de grandes mestres. Aliás, recentemente, a Christie’s abriu escritórios na China e na Rússia. Em 2007, a Sotheby’s faturou US$ 5,33 bilhões, contra US$ 3,66 bilhões em 2006 – um crescimento de 46%, impulsionado pelos colecionadores dos países emergentes. Ovos Fabergé passam fácil da barreira dos milhões e estão sendo repatriados pelos russos. As vendas de arte russa saltaram de US$ 223,6 milhões, em 2006, para US$ 324,9 milhões em 2007. “Os árabes também estão comprando muitas obras de arte e peças de antiquário”, diz Eduardo Stadnik, especialista em leilões e obras de arte. “Estive na França e os principais antiquários de lá estão vendendo vasos Baccarat com detalhes em ouro que têm dois séculos de história. Só que os estão banhando a ouro novamente, pois os árabes procuram peças que brilhem.” Não importa o preço,
o que vale é ostentar.