#BDGEntrevista – No fundo, quem é você?
Tenho uma vaga ideia, mas prefiro não me aprofundar muito para me permitir ser uma alma em permanente evolução. Acho que a gente se faz essa pergunta até o fim da vida. Quem tem essa resposta pronta, na ponta da língua, endureceu.
#BDGEntrevista – Como acha que as pessoas te veem?
As pessoas? Eu não saberia dizer, tomara que me achem um cara simpático. Procuro ser, de fato, um homem correto, coerente, disciplinado e positivo para os que convivem comigo. Um bom marido, um bom amigo, um bom genro, um bom parente. Espero despertar alegria e bons sentimentos nos outros. Se atingir um pouco dessa meta, estou bacana.
#BDGEntrevista – Para a maioria das pessoas, ser famoso é sinônimo de ser feliz, você concorda?
Eu não acho que isso se aplique à maioria das pessoas, mas a uma parcela frágil, ínfima e desinformada da população. Acho que a maioria das pessoas está preocupada em sustentar seu lar, pagar suas contas, alimentar o filho, curtir seus pequenos prazeres. A fama não traz felicidade; traz satisfação pelo reconhecimento de algum trabalho, de alguma beleza, mas os ônus são enormes, como o cerceamento à privacidade, por exemplo.
#BDGEntrevista – Ainda sobre ser famoso, essa condição atrai coisas boas, mas também alguns oportunistas. Você sente que as pessoas chegam perto por interesse, ou é possível identificar as amizades sinceras?
Claro que existem pessoas que se aproximam por interesse, mas acho isso normal não só na minha profissão como em qualquer outra. Você se aproxima da mulher da cantina para conseguir seu café, não é verdade? Uma assessora de imprensa chega junto para emplacar seu cliente, concorda? E eu a procuro quando preciso de alguma informação. Essas pessoas podem ou não se tornarem minhas amigas, com a convivência. Não fico fazendo drama sobre a condição humana. E não me acho famoso; famoso é o Brad Pitt.
#BDGEntrevista – Como começou sua carreira? Sempre exerceu esta profissão?
Comecei como professor de francês, escrevi um livro e vários artigos relacionados a biografias históricas e eles me levaram ao colunismo social, que nada mais é do que a crônica de um tempo pelos modos, costumes e personagens das elites.
#BDGEntrevista – Como você vê o Brasil do passado, de hoje e o do futuro, no âmbito social e político?
Um jovem paquiderme que perde grandes oportunidades por causa de seu peso burocrático. Não vejo avanço algum porque conheço bem a realidade das escolas. Sem educação, podemos ter as riquezas que forem, que jamais sairemos desse marasmo. Esses anos recentes de crescimento econômico foram subaproveitados porque não se avançou um milímetro na educação e as reformas urgentíssimas na política e na tributação não foram feitas. Me dá uma tristeza enorme porque o meu povo é o melhor do mundo, o de maior coração e fé, e eu faço parte dele. Sinto falta de uma capacidade de se indignar.
#BDGEntrevista – O que acha dos grandes eventos que em breve irão acontecer no Brasil, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas?
Uma roleta russa. Uma parte de mim fica orgulhosa de ver meu país recebendo eventos internacionais desse porte e importância; a outra diz que talvez tenha sido cedo demais, porque temos um problema crônico de cumprimento de prazos e orçamentos, um eufemismo para corrupção.
#BDGEntrevista – Você é amigo da Presidenta Dilma? Qual sua opinião sobre o seu governo?
Não sou amigo dela; eu a entrevistei quando ela era pré-candidata, ainda ministra do Lula. Não tenho amigos na política, e estou bem assim, não me fazem falta. Minha opinião é mais ampla; do jeito que o sistema político brasileiro está apodrecido com tantas infiltrações, dificilmente alguém tomará as medidas que são fundamentais para o país. Sem reforma política, qualquer um que ocupar o Planalto cometerá os mesmos erros.
#BDGEntrevista – Mudando muito de assunto. Para você o que significava luxo e o que significa ter luxo nos dias de hoje?
Quando eu morava em Paris, me divertia com as filas de japoneses na porta da loja da Louis Vuitton. Hoje essas mesmas filas estão na porta das grandes redes de fast fashion, que vendem vestidos de 30, 40 reais. Isso é um sinal dos tempos, mas o luxo continua igual. É o trabalho artesanal detalhista e minucioso, que custa caro, muito caro, porque é raro e poucos sabem executá-lo. O luxo só não está nas mesmas grifes de sempre e, aliás, não tem nada a ver com grife, mas com o tempo e o esmero que uma marca emprega para fabricar seus produtos.
#BDGEntrevista – O cliente brasileiro tem alguma particularidade que você identifica quando procura um produto ou serviço de luxo?
Até pela sua cultura, ele é mais festivo e sem cerimônias ao se aproximar do luxo. As grandes marcas internacionais não podem chegar aqui achando que estão colonizando um país de índios que não sabe nada. Um vendedor de uma butique de Paris é mais pedante, porque o francês é mais distante quando compra. No Brasil, vendedor tem que sorrir, mimar e adular a cliente. E o brasileiro está cada vez mais informado, mais conectado e, consequentemente, mais exigente. Só o serviço de luxo que ainda não chegou por aqui, porque não há uma mão de obra amplamente treinada. Salvo raras exceções, o atendimento é fraco.
#BDGEntrevista – Hoje com a disseminação da informação e o apelo do varejo e suas campanhas, praticamente não existem limites para o consumo de luxo, e o produto exclusivo é cada vez mais raro. O produto customizado pode ser considerado o novo luxo?
Existe limite, sim: o bolso. E o produto customizado depende de quem o customiza. O luxo é o excepcional; tem a ver com a qualidade da mão de obra, com a qualidade da matéria prima, com a estética da loja e com o trabalho de marketing feito ao longo de muitos e muitos anos. No mundo do luxo, cada década que passa é um quilate que se acrescenta ao valor do produto.
#BDGEntrevista – Finalizando, o que seria um pequeno luxo para você?
Luxo é ter saúde e cultivar as pessoas que a gente ama. Sem isso, você pode ter o carro mais incrível do mundo, usar a bolsa do momento e sentar na primeira classe de um avião, que sempre se sentirá uma criatura sem eira nem beira. No meu caso, luxo é o tempo para ficar de pernas para o ar, sem fazer nada. Mas acho que eu enlouqueceria, então prefiro ficar com a galera.
Momentos
fotos: divulgação