Que não gritem os emergentes de plantão, impávidos por um click para coluna social, ávidos por notícia a que preço seja… Não, que também não ecoem palmas de sociedade tradicionalista teimosa em cultivar necessidade de sobrenome para adentrar em qualquer tipo de seleto e abençoado grupo, amém! – porque guetos não existem mais.
O “chique” veio caminhando ao longo do tempo seguindo passos muitas vezes inglórios da alta sociedade, encobertando seus podres e amenizando suas mazelas, como caricatura de algo que, enrustidos, muitos praticavam os maiores desvarios passando-se apenas por “chiques”, nada mais – sob as bênçãos de um Deus Pai – de quem nunca se soube qual divindade…
Nas rédeas do Direito – leis a que todos nos obrigamos – somos iguais – e chique é sermos todos, respeitando-se cada um em seu espaço próprio. Regras de etiqueta – velhos livros que se nos impunham como dogmas de porte e adestramento – se ainda existem, ensinam-nos agora outra regra: a realização pessoal.
Coisas existem, mas cada uma na sua função: guardanapo no colo é de bom trato, sim, para não sujar a calça ou para ficar próximo às mãos, limpando a boca, caso necessário. O último botão do paletó? – Desabotoado para facilitar os movimentos e dar conforto a quem o veste. Até a primeira classe (pobre primeira classe dos aviões) – que de chique têm não o status de serem primeira, mas a condição (única naquele recinto) capaz de se esticarem as pernas e fazer da viagem noturna uma boa noite de sono – este, sim, imprescindível para saúde e bem estar.
Chique talvez seja uma fase de vida em que a pessoa, deslumbrada por estereótipos de riqueza ou cenários de materialidade, queira mostrar-se aos outros em esplendor, fazendo gestos ou acenos de suposto glamour, acreditando que encontrará reconhecimento no imaginário de vida que ela pensa existir. Chique é ilusão. Como tudo na vida, que passa, esse modelo de vida, incorporado ao cotidiano, dá espaço a nova necessidade – agora, de razão sentimental e realmente digna do ser humano: busca de felicidade.
Pessoas de todas as idades, sexo ou condição econômica: a finesse está na concretização dos sonhos. Realizem-se! – isso, sim, é nobre, digno, relevante, em qualquer lugar do mundo. Não por isso, em São Paulo existem filas de BMW amontoadas nas ruas – e ninguém olha para elas, de inanimadas que são. Grifes há em toda esquina – e pouco importa se o cliente usa sapato ou chinelo – vale o montante gasto no final. Boates se enchem de pessoas as mais variadas – para, no final da noite, ninguém sequer perceber se a maquiagem esteve nos olhos, ou a camisa para dentro ou fora da calça: no noves fora da grande noitada, olhamos mesmo é se “rendeu” algum encontro digno dos nossos sentimentos, ou boas gargalhadas, se o motivo era mera diversão. A roupa, as caras e as bocas… perdem-se no meio do caminho, desfazem-se no badalar da música e desaparecem quando, enfim, erige algum respeitável sentimento.
Porque chique, hoje e sempre, é etapa seguinte: despida a roupa, encontro de felicidade…
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