Para Gaudí, a natureza era a fonte de toda a inspiração, por isso suas obras são marcadas pelas linhas sinuosas, pela ausência de simetria e pela profusão de cores. Por seguir esses preceitos, o artista é considerado por muitos como excêntrico e até mesmo inusitado. Na verdade, Gaudí se insere em um movimento artístico e arquitetônico conhecido como Art Nouveau, cujos detalhes exprimiam a preocupação com a beleza e a leveza sensual da natureza em formas estilizadas, modeladas em ferro, vidro e madeira. Todavia, pode-se dizer que o artista catalão tem um estilo próprio e único, que extrapola os fundamentos do Art Nouveau, e faz de suas obras um marco singular para a cidade de Barcelona e toda a Catalunha, onde atuou.
Gaudí realizou a maior parte de seus projetos para a Igreja e a burguesia, entre essa última descatando-se a figura de Don Eusebio Güell, seu mecenas. Sob encomenda de Güell, Gaudí projetou o Parque Güell (1900-1914), um verdadeiro monumento ao Art Nouveau, capaz de fundir à natureza local a arquitetura arrojada de seu mestre, pintura, escultura, paisagismo, artesanato, numa verdadeira experiência visual-sensorial – árvores se unem a colunas de pedra, lagartos de azulejo recepcionam turistas e bancos parecidos com ondas do mar, tudo multicolorido e multiforme.
A princípio, a idéia era que o parque fosse uma cidade-jardim, de caráter residencial privado. Tanto que Gaudí projetou viadutos, ruas, praças e até um espaço para um mercado coberto, nos 15 hectares de área do parque. Das sessenta casas que foram planejadas, contudo, somente duas foram construídas, sendo que em uma delas está a Casa Museu Gaudí, onde o artista morou durante alguns anos. O terreno é pedregoso e muito irregular, mas todo o relevo e as características naturais foram respeitados pelo projeto de Gaudí. O lugar vale uma visita de um dia inteiro.
O segundo destaque fica por conta da catedral A Sagrada Família (1883-1926), que é um símbolo de Barcelona, assim como a Torre Eiffel é de Paris e o Corcovado, do Rio de Janeiro. A igreja é também, com certeza, a mais grandiosa e mais representativa produção de Gaudí, conhecida no mundo inteiro. O arquiteto começou a trabalhar na obra, já começada em estilo neogótico, em 1883, e reformulou completamente o projeto. Foi aí que ele recorreu a todo seu conhecimento e experiência construtiva, utilizando, além de pedra, ladrilhos e vidro, também materiais baratos e reciclados, como cacos de garrafa, azulejos e cerâmica, fazendo com que o local se assemelhasse a um castelo de areia, tão rico em detalhes que é impossível vê-los todos de uma vez. Gaudí permaneceu na obra até sua morte, em 1926, chegando a esmolar para conseguir fundos para a construção (ver biografia de Gaudí).
A Casa Batlló (1904-1906), um exemplo de reforma total de um edifício, era uma antiga casa do XIX e foi completamente transformada pelo gênio Gaudí. A reforma contou com a ampliação de espaços, demolição completa da fachada, soluções para a iluminação e ventilação e construção de mobiliário especial, incluindo portas, janelas, mesas, entre outras coisas. A casa é uma amostra da arquitetura residencial realizada por Gaudí e, ainda hoje, é uma propriedade particular, com sete pavimentos ao todo, sendo o primeiro destinado aos proprietários. Sua fachada traz as linhas sinuosas tão características do arquiteto, com aplicações de mosaicos que brilham com diferente intensidade conforme a incidência de luz. A fachada do primeiro pavimento tem detalhes que imitam formas ósseas e da natureza.
Vale lembrar que, para a realização de todos esses projetos, Gaudí contou com uma numerosa equipe que incluía outros arquitetos, ceramistas, escultores, serralheiros, profissionais que trabalhavam com mármore, vidro e madeira, entre muitos outros.
Outra atração recomendada é a Casa Milà (1906-1912), ou La Pedrera, última obra civil de Gaudí, situada na via mais cosmopolita e chique da época, a Paseo de Grácia. O arquiteto foi escolhido por ter realizado o projeto da vizinha Casa Batlló, considerada o que havia de mais moderno na arquitetura local. A casa fica em uma esquina e sua fachada não possui sequer uma linha reta. O interior é formado por uma estrutura de pilares, trabalhados em pedra e tijolo, que criam amplos espaços abertos, possibilitando a entrada de uma surpreendente luminosidade e ventilação a diversos cômodos. O estacionamento para automóveis no subterrâneo, o primeiro de Barcelona, foi uma imensa novidade para a época. La Pedrera não se destaca somente por sua estrutura, mas também por suas muitas formas, cores e texturas . Por essas inovações, o projeto de Gaudí foi motivo de muitas críticas e sátiras no seu tempo (veja blague da época). Em 1986, o prédio foi adquirido por uma entidade financeira que, depois de restaurá-lo, transformou-o em um espaço cultural, com exposições temporárias e permanentes, chamado Espai Gaudí.
Além dessas obras, Barcelona ainda oferece inúmeras opções, como o Bairro Gótico, o mais antigo da cidade, o Raval, onde há a presença de chineses e ciganos, e a avenida La Rambla, com suas bancas de flores coloridas. Mas é impossível passar pelas ruas da cidade sem se apaixonar e ser levado pelo delírio artístico de Gaudí.
Para as comemorações do sesquicentenário de mais famoso e excêntrico arquiteto catalão estão previstas inúmeras atividades, como exposições, seminários, conferências, atividades educativas e roteiros guiados em um ônibus especial que passará por todas as obras do arquiteto catalão. Para mais informações, o site oficial do “Ano Gaudí” é muito interessante: www.gaudi2002.bcn.es (em espanhol, catalão, inglês ou japonês).
Crédito das fotos: Site oficial do Ano Gaudí: http://www.gaudi2002.bcn.es, guia de visita do Espai Gaudí (La Pedrera), e Márcia Busanello