Um Rei francês no baixo Augusta

Foto Lee Swain. Efeitos especiais: Zeno José Otto
Ainda não eram 10:00h da manhã de sábado, quando abrimos a porta que acionou um sininho anunciando a entrada de mais um cliente na pequena loja na Rua Augusta. Sentado à porta, lendo o jornal do dia, o sr. de barba rala e branca prontamente se levantou e veio nos receber com um sorriso acolhedor. Nos fez sentir em casa imediatamente, falando à vontade com seu sotaque forte, apesar dos quase 60 anos de Brasil. Ali estávamos, eu, Maria e meu chapéu,  prestes a sermos envolvidos pelo charme e pelas histórias de uma das lendas vivas de São Paulo.
Monsieur Maurice Plas, ou Maurice, como ele gosta de ser chamado, fala com prazer do seu negócio. Como ele se tornou o chapeleiro mais respeitado da cidade? Tudo começou com a chegada de Maurice ao Brasil em 1951, fugindo do comunismo da Europa. Vinha ao encontro do irmão, proprietário de uma alfaiataria no centro da cidade. Aprendeu o ofício e passou a atender a fina flor da elite paulistana. Alguns anos depois, abriu sua própria loja em um dos endereços mais sofisticados da cidade na época, a rua Augusta, onde permanece até hoje.  Com o tempo, a rua mítica foi perdendo seus bondes, seu charme e sua vizinhança rica mudou-se para outros bairros. Restaurantes chics fecharam suas portas. Playboys faziam rachas aos domingos. Hippies invadiram suas calçadas. Mas Maurice não se moveu.
Um belo dia, Tarcísio Meira, um dos ilustres clientes da alfaiataria, pediu a Maurice que lhe vendesse uma boina que acabara de trazer da Europa. Tanto insistiu, que Maurice invés de lhe vender o acessório, teve a brilhante idéia de criar boinas e chapéus. Porque não, pensou Maurice?
“Eu, que fiquei conhecido como um dos melhores alfaiates de São paulo, passei a dedicar boa parte do meu tempo à estilização de vários modelos de boinas. Daí pra frente, meu trabalho foi destaque de inúmeros editoriais de moda. Crio desde chapéus de veludo e de algodão – mais ao estilo praia – até sofisticadas boinas de lã escocesa, conhecidas pelo Príncipe de Gales.”
Maurice Plas


Quando me viu entrar vestindo meu Panamá, Monsieur Maurice logo percebeu que não precisaria se esforçar para me vender nada. Gostou quando o cumprimentei em francês, e mais ainda quando lhe disse que morei em Paris. Me falou com emoção de sua terra natal, Geneville, contou histórias do seu pai, da filha que casou e foi morar na Suécia, da mulher, de quando foi atropelado, enfim, poderíamos passar o dia ali conversando, não fosse eu lhe pedir uma indicação de boina. Neste momento ficou sério, olhou atentamente meu rosto por alguns segundos, e pediu ao filho, também Maurice, que abrisse uma gaveta e apanhasse um certo modelo, tudo em francês. Quando colocou a boina em minha cabeça, me senti sendo coroado. Caiu como uma luva, confortável, perfeita. Talvez nunca me ocorresse comprar um modelo assim, daquelas de pintor francês, que os olhos de um  velho alfaiate souberam adivinhar. Saí da loja satisfeito com meu briquedo, vestindo minha nova boina. Merci, Monsieur Maurice.
Fotos: Maria Taccari e Lee Swain
SERVIÇOwww.plas.com.br / Loja: Rua Augusta, 724. Tel.: 11 32579919

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