Fotografia Vintage na FASS

Por: Cynthia Garcia 

Carmem Miranda por Annemarie Heinrich, 1936, cópia de época em sais de prata. 

A fotografia demorou para ser vista como “arte elevada”, mas o que seria do nosso olhar sem a imobilização da imagem pelo agente imaterial da luz? A percepção e a experiência da humanidade, certamente, seriam para lá de obscuras. No brilhante ensaio “On Photography”, a escritora americana Susan Sontag(1933-2004), companheira de vida da fotógrafa Annie Liebovitz, declara: “A fotografia não é uma afirmação do mundo, são fragmentos, miniaturas da realidade”. 

É essa arte na sua versão primeira – do sépia ao preto e branco -, a razão de ser da FASS que, desde 2008, vem firmando seu trabalho criterioso entre colecionadores na sua galeria e nas edições da SP-Arte/Foto. Há dez anos, seus proprietários, o casal de fotógrafos, Pablo Di Giulio e Monica Vendramini (ela, também, artista plástica, ex fotógrafa da Folha de São Paulo), vêm colecionando raridades da fotografia brasileira e latino-americana do século 20 com ênfase em imagens certificadas, autorais e históricas. 

O que é a fotografia vintage? 

“É a cópia de época realizada a partir do negativo original pelo próprio fotógrafo ou sob sua supervisão. A fotografia vintage é um registro histórico duplo não só por ser uma imagem do passado, como também por carregar, nela mesma, sua própria história. Às vezes uma cópia viaja por vários países e, surpreendentemente, retorna ao local de origem. Esse histórico, juntamente com a plasticidade do preto e branco torna a fotografia vintage muito valorizada”, explica ele, ferrenho defensor da cultura da fotografia. “Não há mercado de fotografia sem cultura fotográfica. O colecionador que está se iniciando na fotografia vintage ou na fotografia clássica ou histórica deve buscar informação, conhecer um pouco da história do fotógrafo, da fotografia em si. Sem isso uma fotografia importante pode passar despercebida”, afirma nosso maior especialista. 

Nas paredes da Fass, um caleidoscópio de preciosidades dos primórdios da fotografia sul americana. Da brasileira de meados do século 20, dois nomes responsáveis pela moderna fotografia brasileira chamam minha atenção. De German Lorca, duas imagens altamente pictóricas sobre a volumetria arquitetônica da cidade de São Paulo (ambas década de 60). De Jean Manzon, uma panorâmica noturna – estonteante – da Baia de Guanabara (anos 50), afaga a carioca que sou. Outras homenagens ao Rio Cidade Maravilhosa dos anos 30/40 são assinadas por dois tradicionais estúdios da antiga capital, Photo Bippus e Estúdio A. Ribeiro. 

Do país de origem de Pablo, a Argentina, há três registros da alemã Annemarie Heinrich que fixou residência em Buenos Aires, que merecem destaque. Duas (1933 e 1959) são unidas pelo mesmo tema – o ballet clássico – com um chiaroscuro matizado com delicadeza e drama de estúdio hollywoodiano, característica da série de 1936 que o maior nome da fotografia portenha do período dedicou a nossa Carmen Miranda, clicada durante as turnês da Pequena Notável na Bacia do Prata. 

Do lado Pacífico do continente, o acervo do casal reserva os maiores nomes do Peru, os Irmãos Vargas, com dois retratos femininos de rara beleza e elegância (estúdio, meados de 20), e o genial Martin Chambi, retratista de um dos registros antropológicos mais completos – mais bem iluminados e enquadrados – da história da fotografia. Segundo o intelectual Mario Vargas Llosa: “A magia de Chambi o distingue dos fotógrafos com os quais os críticos o comparam, August Sander, Nadar, Ansel Adams, Edward Weston, Irving Penn(…)”. 

Se nos últimos anos, a fotografia histórica ou vintage é objeto de coleção, no Brasil, é graças ao olhar de Monica e Pablo, especialistas apaixonados que são por esta “lingua universalis” do registro da memória coletiva. 

SERVIÇO: 

Fass 
Exposição de 2/11/11 a 31/01/12 
Rua Rodésia, 26 / Vila Madalena, São Paulo 
contato@fassbrasil.com 
www.fassbrasil.com 
(próxima ao Metrô Vila Madalena) 

Irmãos Vargas, “Florencia Rivero”, 1925. Cópia em gelatina de sais de prata e viragem de selênio

Carlos e Miguel Vargas, “Isabel Sánchez Ozorio”, 1926. Cópia em gelatina de sais de prata

Annemarie Heinrich, “Tamara Toumanova. A Morte do Cisne”, 1959. Cópia, gelatina de sais de prata

Annemarie Heinrich, “Descanso. Las hermanas Marini”, 1933. Cópia de época

Estúdio A. Ribeiro, “Vistas do Rio de Janeiro”, 1930/40. Cópia de época em papel de sais de prata

Estúdio A. Ribeiro, “Vistas do Rio de Janeiro”, 1930/40. Cópia de época em papel de sais de prata

Estúdio Bippus, “Vistas do Rio de Janeiro”, 1930/40. Cópia de época em papel de sais de prata

Jean Manzon, “Baía da Guanabara à noite”, Rio, 1950. Cópia de época em gelatina de sais de prata

German Lorca, “São Paulo Crescendo”, 1965. Cópia de época em gelatina de sais de prata

German Lorca, “Telhados”, 1960. Cópia de época em gelatina de sais de prata e banho de selênio

Martin Chambi, “Festa Familiar”, Cuzco, 1930. Cópia de negativo, vidro original

Martin Chambi, “Muro de Las Cinco Ventanas”, Cusco, 1941. Cópia de negativo, vidro original

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