Especial HBO com Lady Gaga no Madison Square Garden

Por Filipe Castro
@mobacana

Três estrelas no máximo, viu!
A HBO apresentou neste domingo, 15/05/11, o especial de Lady Gaga no Madison Square Garden, mostrando os bastidores e o show completo da enorme turnê “The Monster Ball” gravado em meados de fevereiro. Lotação máxima de público, grandes efeitos, coreografias, roupas esdrúxulas e um discurso quase idêntico a de uma igreja pela salvação.
O inicio do especial revela uma Gaga versátil, que ao se maquiar no camarim soluça em lágrimas acreditando ainda ser um fracasso e exprimindo uma sutil revolta ao dizer: Queria ser uma rainha pra eles (fãs), mas ainda não me sinto como uma. Neste ponto já percebemos o apelo e até certo desconforto ao acreditar que Gaga (Stefani Joanne Angelina Germanotta, nascida em 28 de março de 1986) classifica sua gigantesca adoração e fortuna acumulada em menos de 03 anos como um fracasso. Sério mesmo?
A partir daí ela começa o show que não se pode negar é cheio de visuais, efeitos especiais, cenários, coreografias e figurinos típicos desta cantora, mas nada que passe a imponência de um show que Madonna faz. Gaga acredita no seu potencial como artista performática mais que tudo. A referencia de que ainda não se sente uma rainha, não seria um apelo pra ser melhor que a própria Madonna?
Porém, o melhor para se pensar e refletir quem e como é essa mega potência, que arrebatou todos os holofotes do mundo POP nesses últimos anos, são os diversos diálogos que a artista abre com o público. Realmente, Gaga foi a maior vitima de bulling da história do mundo (rsrsrsrs). Ela deixa isso bem claro e desafia seus “Little Monsters” a serem como ela, que criem coragem e que enfrentem esse tormento. O seu show começa com uma expulsão do incomodo, ela diz a platéia que tem as chaves do portão do Madison Square Garden e que tudo de ruim fica do lado de fora, a noite é feita para que seus súditos liberem geral. Depois daí dispara ao argumentar a dor e a revolta de ter sido maltratada, ou que ninguém acreditou nela e mais um monte de clichês que qualquer artista sofre para chegar a este patamar da fama. Toda essa busca de achar coincidências entre os problemas dos fãs e de Gaga no intuito de fazê-los cada vez mais cultuarem sua “Mama Monster”.  
Em certo ponto do show ela deita ao chão e se compara a personagem Sininho, do conto Peter Pan, pois em suas palavras: “Eu morro sem aplausos” – em uma necessidade de valorização e reverencia dos seus “discípulos”. Seu marketing nesse ponto é certeiro. Como seu principal publico, o de gays assumidos ou não, antes adoradores de si mesmos ao extremo, precisavam agora de uma imagem unificada a ser adorada. Gaga trilhou cada passo para que isso se concretizasse. Compara seu bulling próprio ao desafio que os gays passam para se tornarem quem são, e os compara a Jesus Cristo, na missão de amar homens e mulheres sem distinção. Daí se compreende o uso em demasia das imagens religiosas em seus vídeos e roupas, uma alusão ao fundamental, a fé para a transformação das idéias, tornando a cultura pop na transformação em fé.
Mais uma grande diferença entre o “Show” de Gaga e Madonna. A rainha do POP não precisa desse discurso, suas músicas trabalham por si mesmas e todos seus elementos que fazem parte de um espetáculo. Gaga transforma esse conceito em maçante, repetitivo e cansativo ao ficar falando disso, uma vez que nem todas suas músicas expressam essa menagem.
Na época da gravação deste especial, Gaga confrontava Britney Spears no lançamento de seus singles, que abririam a concorrência na venda de seus novos álbuns. De um lado Spears com o eletrônico “Hold it Against Me” e do outro Gaga com o hino dos calejados socialmente Born This Way. Por tudo isso ela não deixa de cutucar a rival, sutilmente mostrando aos fãs que canta o show inteiro, sem utilização de playback, e que nunca permitiria que os “Little Monsters” pagassem para ver um show assim, falso.
Essas observações são detalhes de uma análise do comportamento desta artista e sua influência sobre os fãs. O que ela veio revolucionar? Nada. Tudo existe aí há muito tempo, porém o acerto de todos que a produzem se deu agora, numa época em que as idéias contrárias e as diferenças são muito mais respeitadas do que quando Cher, Madonna, Cindy Lauper, Britney Spears e Christina Aguilera começaram. Gaga é uma excelente artista, compõe, dança e realmente canta, mas está longe de ser completamente autêntica. Seu show? Um espetáculo, não tem como não ficar parado com os hits que tocavam de hora em hora nas rádios nos últimos tempos, não tem como não se fascinar pelos detalhes da produção, mas tem como ter opinião, ao invés de engolir esse sucesso todo.


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